*Baseado no artigo de Mário Garcia, gestor técnico de conservantes e inoculantes da 3FMaximizar o rendimento dos recursos é um factor-chave para reduzir os custos de produção. Um dos processos anuais das explorações onde se pode ganhar ou perder muito dinheiro é na qualidade da silagem.
Processo de silagemDeve ser lembrado que a produção de silagem consiste em conservar forragens húmidas e, portanto, para alcançar a máxima qualidade nutricional e sanitária assim como minimizar perdas de matéria seca, é necessário conseguir a ausência de oxigénio (anaeróbico), o máximo de tempo para a maior quantidade de forragem possível.
Na ausência de oxigénio, as bactérias fermentam os açúcares e o amido da forragem e convertê-lo em ácido láctico, ácido acético, etanol e dióxido de carbono, acidificando a silagem, impedindo assim a sua deterioração. O processo de silagem é dividido em quatro etapas principais:
1) Fase aeróbica, desde a colheita até que se alcance a anaerobiose. Esta fase deve ser a mais curta possível (no máximo 24 h). Quanto mais tempo levar a que a forragem atinja a anaerobiose, mais tempo está a respirar e consequentemente, maiores serão as perdas de matéria seca e de energia.
2) Fase anaeróbica, uma vez alcançada a anaerobiose, o silo fica estabilizado aproximadamente 14 dias após o seu fecho, isto se tudo correr bem. Nesta fase, as primeiras horas são críticas. De facto, para minimizar as perdas de matéria seca, é fundamental conseguir que o pH da massa de forragem diminua até obter o pH de conservação (4 ou menos), nas primeiras 48 horas após o fecho do silo.
3) Fase de estabilização, se tudo correr bem, a forragem encontra-se no pH de conservação. Recomenda-se que esta fase não dure menos de 14 dias, e, portanto, que não se abra o silo durante um período de 28 dias após ter sido fechado.
4) Etapa de abertura, nesta fase, a massa de forragem é novamente exposta ao oxigénio, sendo a proliferação de leveduras e de fungos o maior risco, levando por sua vez a aquecimentos na forragem. Este crescimento fúngico é acompanhado por uma consequente perda de energia, proteína e de matéria seca total da silagem, bem como a ocorrência de micotoxinas, com um efeito direto no aparecimento de mastites e à deterioração dos parâmetros reprodutivos do efectivo.
Embora pareça que o processo é simples na teoria (colher, compactar e fechar), o seu bom desempenho na prática é muito mais complicado devido à multiplicidade de fatores envolvidos: tipo de forragem e variedade, matéria seca da forragem, condições climáticas no momento da ensilagem, altura do corte da forragem, quantidade de grão esmagada e partida, fase de crescimento de forragem, compactação da forragem, tipo de silo, tipo de plástico, o grau de fecho do silo, a gestão da silagem, o tipo de conservantes e inoculantes assim como o seu modo de aplicação.
Inoculantes e ConservantesOs inoculantes são produtos baseados em combinações de diferentes bactérias lácticas que são adicionados à forragem para garantir e controlar a fermentação da silagem, que por outro modo, dependeria da flora que a forragem pode transportar e que normalmente nunca é suficiente para se obter o controlo da fermentação adequada em todas as suas fases.
Os inoculantes como seres vivos anaeróbicos que são, para poderem trabalhar requerem um substrato suficiente e adequado (amido e açúcares), e ausência total de oxigénio. Portanto, a aplicação de inoculantes não isenta de realizar as práticas adequadas na silagem. Um produtor que realizou corretamente o processo de silagem, com a aplicação do inoculante controla a fermentação e melhora a qualidade higiene-saúde e nutricional da silagem, bem como minimiza a perda de matéria seca por processos prejudiciais, tais como, a respiração, a podridão ou o aquecimento produzido por fungos e leveduras.
O produtor que investe dinheiro em sementes, fertilizantes, colheita, transporte, compactação, plásticos, etc., pode melhorar a garantia de uma fermentação adequada em todas as fases da silagem se aplicar correctamente um inoculante adequado.
Os aspectos-chave de um inoculante são os seguintes:1) Uma alta concentração de bactérias lácticas por kg de silagem.
2) Obtenção de uma rápida fermentação no início da fase anaeróbica. Por conseguinte, é importante que a inoculação tenha uma concentração elevada de bactérias lácticas homofermentativas (
Lactobacillus plantarum, Enterococcus faecium), com elevada produção de ácido láctico, e com pH óptimo de trabalho sequencial, para que o pH baixe rapidamente nas primeiras horas, levando a massa forrageira rapidamente ao pH de conservação, reduzindo drasticamente as perdas de matéria seca total (até 10%).
3) Assegurar que, durante a fase de estabilização, a própria massa da forragem produza conservantes químicos, tais como ácido acético e ácido propiónico, que controlem o crescimento de fungos e leveduras a partir do interior. Este inoculante deve incluir na sua composição bactérias lácticas heterofermentativas (
Lactobacillus buchneri), que além de produzir ácido lático, produzem estes conservantes químicos. Estas bactérias heterofermentativas, são fundamentais para os inoculantes destinados à produção de Pastone, onde o maior risco é o aquecimento por crescimento de fungos pelas suas características especiais de produção.
4) O sistema de medição dos inoculantes deve ser adequado para a obtenção de uma homogeneidade razoável, pelo que se recomenda que a dose mínima de solução aquosa que o inoculante contém, não seja inferior a 0,5 litros por tonelada de forragem.
Finalidade dos conservantesOs conservantes, são aditivos compostos por diferentes moléculas químicas, cuja utilização na silagem é necessária quando alguns fatores não são os adequados e impeçam os inoculantes de poderem funcionar corretamente, como por exemplo:
1. Pouco substracto na forragem: se a silagem é produzida com excesso de humidade (<28%), com uma forragem num baixo estado maturação, ou com uma forragem com poucos açúcares (p/ exemplo:
ray-grass, trevo ou luzerna), as bactérias lácticas têm pouco substrato onde trabalhar e, portanto, demorarão muito tempo para atingir pH de conservação, o que resultará em perdas globais de matéria seca, energia, proteína e um alto risco de podridão. Sob tais circunstâncias, é recomendado adicionar conservantes químicos compostos principalmente em ácido fórmico para obter directamente o pH de conservação.
2. Anaerobiose não alcançada: quando a forragem não está devidamente compactada (lotes de pequenos silos, enchimento de silo muito rápido, trator compactador com pouco peso, feno muito seco (parte superior e laterais dos silos), ou a frente da silagem é consumida lentamente. Em tais casos, existe oxigénio na massa da forragem, e, portanto, o risco de crescimento de fungos, de aparecimento de zonas de aquecimento e de produção de micotoxinas. Sob tais circunstâncias, devem ser tratados com conservantes químicos baseados principalmente em ácido propiónico, que controlam directamente o crescimento de leveduras e fungos. Assim, em lotes de pequenos silos, ou quando se tem recolhido o excesso de forragem de matéria seca, convém aplicar conservante químico em toda a massa de forragem em vez de aplicar inoculante. Em todos os silos, antes do fecho, devemos aplicar um conservante químico nas últimas três camadas, uma vez que é uma zona aeróbica de risco por falta de compactação. Além disso, se for observado um aquecimento na parte da frente quando a silagem é consumida, deve-se pulverizar com estes conservantes na frente correspondente à porção consumida em cada dia.
Para estas situações existem formulações comerciais de baixo risco e volatilidade, que permitem a adição na forragem de forma controlada de produtos de alta concentração de ingrediente ativo.
Conclusões1.
Uma correcta silagem requer um substrato adequado, uma total ausência de oxigénio, é necessário trabalhar o melhor possível em todas as fases de produção (desde a sementeira até à sua utilização diária).
2. Os
inoculantes e conservantes são uma ferramenta fundamental para alcançar uma boa qualidade nutricional e sanitária da forragem, bem como para reduzir as perdas globais de matéria seca, que podem vir a ser muito grandes.
3. Os
inoculantes garantem a fermentação quando as condições são adequadas, minimizando perdas de matéria seca, melhorando a qualidade nutricional e sanitária da forragem.
4. Os
conservantes químicos são imprescindíveis quando as condições não são apropriadas,
ajudando na obtenção do pH de conservação quando o substrato é fraco, minimizando o risco de podridão. Também
evitam a deterioração fúngica da forragem quando a anaerobiose não está completa.Fonte: Artigo originalmente publicado no site da Associação Agrícola S. Miguel tendo sido adaptado pela equipa do MilkPoint